Afoxé Omô Nilê Ogunjá promove “Projeto Agogô – o Enunciado que Faz Acontecer” em escolas e coletivos do Ibura

De caráter educativo, projeto surgiu em apoio à implantação da Lei 10.639/2003 e conta com aporte do Fundo Baobá para Equidade Racial

O povo que canta e encanta com a sua alegria está levando tecnologias ancestrais de luta e enfrentamento antirracista para as escolas e coletivos do Ibura, bairro da periferia do Recife (PE), no qual habitam quase 200 mil pessoas. Desde março deste ano (2023), o Afoxé Omô Nilê Ogunjá iniciou a realização do Projeto Agogô – O Enunciado que Faz Acontecer, em espaços formais e não formais de educação, com o objetivo de apoiar coletivos e educadores no desenvolvimento de ações que promovam a equidade racial, de modo a contribuir com a implementação da Lei 10.639/2003, que em 2023 completou 20 anos.

O Projeto está alinhado ao compromisso social e político do Afoxé: ocupar os espaços públicos com a alegria, fé, religiosidade e a arte do povo negro, inspirando as pessoas com a beleza, o entusiasmo e as narrativas das tradições de matriz africana. Para o grupo, sair em cortejo é agregar, fortalecer a comunidade e gerar pertencimento; cantar, tocar e dançar significam louvar o sagrado, unidade de vida.

Além disso, através da música, da dança e da percussão – linguagens artísticas com grande potencial educativo e transformador -, o Omô Nilê quer sensibilizar estudantes em situação de vulnerabilidade, de modo a fortalecer as identidades e culturas afro-brasileiras. A inciativa conta com o aporte financeiro do Fundo Baobá para Equidade Racial, por meio do Edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Igualdade Racial.

De acordo com Dario Pereira Jr., presidente do Afoxé e coordenador geral do Projeto Agogô, a proposta surgiu da ideia de aproximar as tecnologias desenvolvidas há quase duas décadas pelo Afoxé das escolas da comunidade do Ibura, bairro no qual o Omô Nilê está sediado. “Nós sistematizamos nossos valores e conhecimentos filosóficos e ancestrais e, a partir daí, elaboramos um projeto que propõe o diálogo entre nossas práticas e nossos saberes, utilizados no terreiro e no Afoxé – que também são caldeirões pedagógicos -, e os saberes formais”.

O grupo de trabalho (GT) do Projeto Agogô já visitou nove escolas da comunidade, para apresentar a proposta. Diagnóstico inicial feito, foram selecionadas quatro escolas, considerando critérios como perfil e localização. O GT é formado pelo próprio Dario, por Manoel Sérgio de Oliveira Neto, coordenador pedagógico; Wagner Max Rodrigues de Carvalho, coordenador administrativo e educador; Marinalva Maria da Silva, educadora; Iraneide Passos, secretária; e Paula Cristina, auxiliar administrativo.

Na fase atual, estão sendo identificados coletivos(as) que também serão parceiros do Omô Nilê nesta empreitada; planejados laboratórios de trocas e aprendizagens; e elaboradas metodologias para criar redes de diálogos e relacionamentos com os coletivos, educadores(as) e as escolas, através do Programa de Imersão Artístico-cultural Afro-brasileiro, também realizado pelo Afoxé Omô Nilê Ogunjá, a fim de que sejam desenvolvidas ações pedagógicas que se somem ao Projeto Agogô e contribuam com a luta antirracista.

Como produto final, o Omô Nilê vai criar um plataforma on-line com a “Rede de Vivências Formativas Agogô”, na qual estarão mapeados todos os grupos, coletivos e organizações que desenvolvem ações de promoção da Lei 10.639/2003, junto a adolescentes e jovens, no Ibura. Ao clicar, o(a) interessado(a) poderá saber quais iniciativas educacionais existem na localidade, como são feitas e quem as coordena, de modo a fomentar novas possibilidades de atuação em rede.

O Projeto Agogô se propõe, ainda, a contribuir com o desenvolvimento de estratégias e ferramentas de monitoramento de políticas educacionais direcionadas a adolescentes e jovens, estudantes de escolas públicas e integrantes de grupos e coletivos do Ibura, que assegurem a promoção da equidade racial e do enfrentamento ao racismo.

Parceria com a UFPE

Para ampliar o debate em torno dos 20 anos da Lei 10.639/2003 e fortalecer as ações do Projeto Agogô – O Enunciado que Faz Acontecer, o Omô Nilê Ogunjá tem contado com a orientação pedagógica do integrante do Afoxé e professor-doutor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Barros.

Além disso, o Afoxé firmou uma parceria com a Universidade, por meio do Programa de Pós-graduação em Educação, Ciências e Matemática, para a realização de diagnósticos nas escolas mapeadas pelo Agogô. Sob a orientação de Barros e do também professor-doutor Ivanildo Carvalho, cerca de 40 mestrandos e mestrandas estão contribuindo com o desenvolvimento de análises dos ambientes educacionais e sugerindo ações, estratégias e metodologias pedagógicas aos integrantes do Afoxé. 

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